The Analytical Creativity

A Web Summit só na “Web” não funciona, tal como o digital precisa de ser “físico”…

Web Summit 2020 (2)

Portugal investe neste evento para estar no mapa mundial da tecnologia e da inovação, e para assegurar que milhares de empreendedores e de líderes globais visitem Lisboa durante uma semana”… referiu o jornalista do ECO, António Costa, no rescaldo da Web Summit versão 2020, onde levanta questões pertinentes entre aquilo que são os objectivos estratégicos desta conferência para o nosso país e o resultado prático da edição deste ano.

Na edição do ano passado, Brad Smith, Presidente da Microsoft, começou a sua intervenção justamente a valorizar este impacto:

“Isto tornou-se uma tradição: Todos os anos em Novembro o mundo reúne-se em Lisboa para falar de tecnologia”…

Devido às restrições em vigor, o modelo adoptado terá sido o possível, entre os compromissos envolvidos, mas colocou em causa interesses de diversas comunidades no formato presencial, desde participantes a empreendedores, bem como de uma extensa economia instalada de produtos e serviços que beneficiariam com esta semana em particular (logística, hotelaria, transportes, restauração, etc.).

Há uma Web Summit para as startups, investidores e outros stakeholders que certamente ficou salvaguardada, mas é um facto incontornável que:

Há toda uma vertente crucial da Web Summit que se perdeu nestes 3 dias…

O ambiente fervilhante high tech numa visão 360; a dinâmica dos espaços; a extensa moldura humana em constantes fluxos e, sobretudo, o networking em várias frentes (dentro do recinto e fora de horas) também fazem parte, e de que maneira, da imagem de marca da Web Summit, porque o valor que se retira da experiência de quem participa para sentir e viver este ambiente, é a soma de todas estas partes e não apenas aquilo que se ouve nas palestras em streaming.

Para muitos públicos, aquilo que se “consumiu” este ano da Web Summit não foi certamente o mesmo “produto” que costuma ser, porque em termos concretos:

Nem o maior evento tecnológico do mundo consegue ser o mesmo num ambiente 100% digital…

O ambiente digital é cada vez mais “físico” (e vice-versa…)

Este exemplo da Web Summit veio reforçar a importância de continuarmos a aprender sobre a evolução da condição humana entre o seu ambiente nativo e os estímulos cada vez mais intensos e próximos de ambientes virtuais.

O ano de 2020 ficará marcado, entre outros aspectos, por ser o “Ano Zoom” (ou “Teams”) por analogia às plataformas mais utilizadas por questões de contingência face às barreiras impostas no ambiente real.

Se, por um lado, há benefícios óbvios que até fizeram “renascer das cinzas” alguns temas que estiveram “congelados” no tempo – segundo dados do Google Trends, o teletrabalho esteve 16 anos em “stand-by” até ser novamente uma forte tendência – e que aumentam a proeminência da tecnologia digital como factor estratégico, por outro, existem novos indicadores e experiências que nos dizem que este caminho não pode ser radical.

A Web Summit, enquanto evento público convencional, precisa de ser omnicanal e presencial para maximizar o seu impacto e mediatismo em todas as vertentes da conferência. Por esta razão, precisa de continuar a ser, tipicamente, click and mortar, tal como a Amazon (através da Amazon Go) e várias outras marcas nativas digitais que sentiram a necessidade de também serem “físicas”.

O retalho a nível global já nos vinha dando sinais desta realidade, onde o movimento mais recente está a ser dado pelas indústrias do luxo e automóvel – proporcionar realidades mistas aos seus clientes.

Nestas realidades a essência da marca não perde aquilo que construiu dentro do seu território genuíno, seja ele físico ou digital, e que lhes permitiu conquistar os seus clientes, pelo contrário, tentam acrescentar mais valor aos mesmos atributos, trazendo-os para ambientes alternativos.

A força da experiência “OnLife”

À semelhança do que referi no meu último livro: “A Revolução no Marketing Mindset”, a conversão entre os “mundos online e offline” provocado justamente pela própria tecnologia, irá levar-nos (segundo Philip Kotler, marketing 4.0) para um “futuro do marketing” pleno de experiências entre aqueles dois ambientes, apelando à sua universalidade.

Wijnand Jongen, Chairman of the Executive Committee of Ecommerce Europe, esteve em Lisboa na edição de 2019 do Portugal Digital Summit, onde veio defender o seu conceito “The end of Online Shopping: The future of retail in an always connected world”, através do qual sugere que há um novo mantra que deve orientar o mindset dos retalhistas: “Retailers should no longer try to fit the customer in their environment

Este paradigma assenta no conceito onlife retail: O consumidor será guiado nos espaços comerciais, sejam eles físicos ou desmaterializados, em função unicamente das suas próprias expectativas de forma transversal, sem considerar barreiras nem fricções.

O termo onlife foi introduzido pelo filósofo Luciano Floridi, pioneiro no estudo da Filosofia da Informação. Em 2012, Floridi foi responsável por um think tank promovido pela Comissão Europeia com o objectivo de descobrir os efeitos da revolução digital na nossa forma de pensar.

Através deste trabalho, ficou evidente que a distinção entre o ambiente online e a vida iria ficar cada vez mais opaca, dando lugar a uma única experiência onlife.

A conveniência do On associada ao prazer do Life, na qual podemos fazer uso dos nossos receptores sensoriais genéticos é uma “fórmula” poderosa que continua a evoluir e a moldar os próximos tempos…

Depois da edição deste ano, ficou certamente no ar a expectativa de podermos voltar a viver uma Web Summit onlife, como muitos outros eventos que, infelizmente, não puderam ter lugar.

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