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Startup vs Startdown: As 3 Forças da Mudança

Startup

Como era expectável, muito se falou do aniversário do Facebook. A partilha dos vídeos pessoais criados pela equipa de Zuckerberg para assinalar este marco acabou por ser a face mais popular desta efeméride, mas a primeira década de “facebookmania” vai muito para além deste conteúdo simpático e simboliza apenas uma etapa de crescimento exponencial naquela que é considerada uma das startups de maior sucesso da história da gestão contemporânea.

Mas uma startup não permanece em “Start” nem em “Up” durante 10 anos a tentar vingar um propósito sem que haja consequências a ter em consideração. Falar das startups que pertencem ao grupo restrito do chamado “Sonho da Garagem”, como a Apple, a Google e o próprio Facebook (entre outros exemplos) e que preenchem, de facto, o sonho de muitos candidatos a empreendedores, com ou sem garagem, é ter em consideração um fenómeno que conjuga na perfeição, essencialmente, 3 diferentes forças:

  • Uma ideia
  • Uma atitude
  • Uma circunstância

A Força da Ideia

A criação de uma ideia de base a uma startup aparenta não ter qualquer fórmula mágica. Hoje os termos: Empreendedorismo > Startup > App, misturam-se entre si a um ritmo alucinante e são vários os exemplos de projectos de empresas que nascem suportadas neste “mix” que parece  ter uma lógica natural.

Não vem mal ao mundo pensar-se desta forma, porque continuamos a assistir a novos movimentos de elevado potencial que apontam para esta mesma direcção, e o percurso das startups de maior mediatismo que hoje conhecemos começou a ser escrito exactamente neste enquadramento.

Mas, de facto, existe uma fórmula, que embora não sendo literalmente mágica, poderá despontar numa magia muito própria do seu criador. Conseguir idealizar algo que mobilize pessoas ou empresas em larga escala (leia-se, seguidores ou utilizadores – os novos KPIs desta realidade) num contexto extraordinário que “condene” o projecto ao sucesso requer pelo menos um aspecto prefencialmente inato: Visão

E o que significa ter visão nesta perspectiva: É a capacidade de idealizar algo de valor conceptualmente materializável que crie uma inovação disruptiva (definição do autor)

Visionar algo a este nível dependerá do esforço que cada um considerar ser fundamental empreender até se encontrar o chamado “click”, embora nem sempre seja evidente o grau de certeza em relação ao sucesso. Na génese do Facebook, por exemplo, os seus criadores estariam longe de imaginar, ou de prever, qual seria o valor disruptivo que a plataforma viria a alcançar volvidos 10 anos, mas ele era intrínseco à ideia que caracterizou o seu lançamento.

Muitos projectos de empresas e de negócios são sustentados em metodologias mais ou menos conhecidas e/ou convervadoras (“research”, “brainstorming”, testes de produto e de conceito, etc.), mas cada vez mais se tem assistido ao aparecimento de ideias de sucesso que surgem de simples experiências de vida no quotidiano dos seus criadores, longe de qualquer processo rigoroso de estudo prévio.

Não se pretende admitir que deixará de haver espaço para as actividades previsionais associadas a qualquer investimento (desenho de estratégias e planeamento de negócios, etc.) próprias e extremamente necessárias para quantificar a racionalidade de cada projecto, contudo, uma ideia de elevado potencial habitualmente nasce desprovida destes “artefactos”, porque se tenta dar espaço à sua própria singularidade e espontaneidade – É a este nível que, por vezes, se consegue identificar a essência do seu valor disruptivo.

O nível de criatividade, ou a cultivação de um ambiente propício à identificação de ideias que se tornam ícones da humanidade, poderá estar directamente ligado à vivência dos seus promotores, e enraizado numa forma de pensar, olhar e acreditar que, provavelmente, nem todos poderão alcançar, nem tão pouco compreender.

Isto não significa dizer que a criação de ideias é um caminho fechado a determinados indivíduos ou segmentos da população, mas apenas ressalvar que podem existem barreiras naturais para a dinâmica da criatividade, para o pensamento e, acima de tudo, para o querer acreditar e ver para lá do óbvio – É precisamente aqui que começa o nascimento da Visão.

A Força da Atitude

Em boa parte, o enquadramento da Ideia diz respeito a uma postura muito particular de quem pretende vir a ser empreendedor. Temos vindo a assistir a várias iniciativas no nosso país sobre Como ser empreendedor? que são apadrinhadas, e bem, por gestores que se dedicam a projectos de vida que servem hoje de exemplo a muitos jovens que perseguem o “Sonho da Garagem”.

Em todas estas experiências, é possível perceber um discurso que, na sua génese, vai entroncar em aspectos muito comuns relativamente à postura destes gestores:

  • Acreditar na sua ideia;
  • Aceitar o risco;
  • Estar sempre disponível;
  • Saber aprender

Conhecer o perfil do “candidato” a empreendedor é um desafio fundamental que importa ter presente, sobretudo num exercício puro de introspecção: Eu tenho uma atitude de empreendedor?

Um dos estudos mais extraordinários sobre a atitude empresarial foi elaborado por Douglas McGregor (1906 – 1964), ilustre professor de Gestão do MIT, que em 1960 lançou o livro “The Human Side of Enterprise”, considerada a 4ª obra de sempre com maior influência no estudo da gestão no século 20, na qual introduz uma reflexão comportamental baseada em 2 teorias: Teoria X e a Teoria Y, que descreve 2 perspectivas em contraste sobre a motivação humana perante a força do trabalho.

Este modelo de teorias foi pensado na óptica dos gestores de equipas, nomeadamente na percepção que eles possuem sobre os seus colaboradores:

Teoria X – Parte do pressuposto que existem colaboradores que não gostam das suas funções. Nesta realidade, os colaboradores têm de ser supervisionados

Teoria Y – Parte do pressuposto que existem colaboradores que gostam das suas funções e carreiras e procuram fazer parte das responsabilidades da empresa. Nesta realidade, os colaboradores não necessitam de ser supervisionados, sendo expectável que sejam altamente productivos.

Uma das conclusões mais interessantes que Douglas McGregor retirou da sua experiência na aplicação destas teorias foi simplesmente a seguinte: Poderá não ser necessário aplicar recompensas ou acções punitivas de forma sistemática no ambiente de trabalho (de acordo com as circunstâncias) porque existem pessoas que nascem com motivação para trabalhar sem qualquer tipo de incentivos.

Esta conclusão de McGregor persiste talvez ainda hoje (com as devidas adaptações) como o maior activo que qualquer empreendedor pode ter na sua jornada em alcançar o “Sonho da Garagem”. Embora o seu principal incentivo seja, obviamente, a materialização da sua ideia, os valores que sustentam a sua motivação devem ser inatos, genuínos e não estarem dependentes de factores instrumentais ou arteficiais.

A cultura de uma startup está dependente da cultura do seu criador, e este último, naturalmente, da sua própria atitude – Este ciclo deve ser imaculado deste o primeiro momento da ideia e permanecerá como a principal motivação de sucesso na criação de um projecto.

Estar aberto à aprendizagem e a tudo aquilo que ela permite alcançar faz toda a diferença. Saber ter e cultivar uma atitude dinâmica, não apenas nos aspectos descritos nas palavras e entrelinhas de qualquer empreendedor (acreditar na ideia, aceitar o risco, estar sempre disponível e saber aprender, etc.) mas, sobretudo, em relação a si próprio é a melhor “App” que podemos “instalar” na nossa consciência.

A Força da Circunstância

O caminho percorrido por uma startup não é idêntico para todos os empreededores. Nem todas as startups são comparáveis na forma de sucesso, sobretudo na essência do seu grau de crescimento, assente na característica do projecto poder ser altamente escalável ou não.

Existem diferentes tipos de sucesso no lançamento de uma startup e nem todas estão “condenadas” ao sucesso mediático, mas apenas ao sucesso que o seu criador entendeu como sendo seu e aqui o valor de mercado talvez nem sem aplique como essencial.

As circunstâncias de lançamento de uma ideia neste formato dependem dos mais variados factores. Muitos dos “Sonhos de Garagem” conhecidos tiveram a circunstância de terem nascido em mercados culturalmente mais tolerantes ao risco, onde a corrente de financiamento e de reconhecimento público é mais aberta, oportuna e quase imediata, mas também onde se cultiva algumas prácticas “estranhas” em mentalidades mais convencionais, como a celebração do fracasso e o incentivo ao abandono escolar por troca da frequência de programas pré-empresariais.

Entre algumas destas práticas está o Thiel Fellowship (anteriormente designado por “20 Under 20”) promovido por Peter Thiel, co-fundador e anterior CEO da PayPal, empreendedor e venture capitalist, que lançou o desafio de incentivar os jovens a sairem prematuramente das suas universidades para ingressarem, directa ou indirectamente, em projectos de startups ou simplesmente colaborarem em departamentos de empresas já instaladas com elevado potencial.

Todos os jovens que participarem nesta iniciativa usufruem de um programa subsidiado de mentorship em várias áreas do conhecimento científico e tecnológico, cujo propósito final será o desenvolvimento de talentos, com uma genuína visão empreendedora.

A circunstância do financiamento é outro driver crucial na evolução de um projecto de startup, sobretudo na capacidade de atracção efectiva de capital inerente à ideia que lhe está subjacente. A história do Snapchat é digna de mais um “conto encantado” que nasceu de uma garagem (neste caso específico na sala de estar do pai de Evan Spiegel, principal fundador do projecto) e que teve um período de “seed round” inicial no valor de 485 mil USD na altura do seu lançamento (Setembro de 2011) para um total perto de 75 milhões USD em Junho de 2013, com origem em diversos “business angels”.

Este exemplo do Snapchat pode ainda servir para descrever 2 perspectivas colaterais no mundo das startups:

O valor que é necessário “from the scratch” para tornar a operação da startup uma realidade, e que por vezes não é perceptível quando nos deixamos apenas envolver pela espectacularidade ou encantamento da sua ideia.

A indústria que sustenta o mercado especulativo por detrás deste tipo de projectos, e que torna hoje possível o “trading” de startups a valores próximos das ofertas que o Snapchat recebeu dos gigantes Facebook e Google no final de 2013, mesmo sem existir ainda (que seja do domínio público) um modelo racional de negócio para aquela plataforma que sustente toda a expectativa de retorno destes valores.

A Conjugação das 3 Forças

Em Portugal temos exemplos de startups bem sucedidas, em redor de projectos que se mantêm estáveis e em crescimento optimizado e sustentado, quer no mercado interno, quer no lançamento de operações internacionais, e os seus promotores poderão ter opiniões distintas na forma como a conjugação destas 3 forças foi, mais ou menos, favorável ao desenvolvimento dos seus projectos.

Várias startups foram criadas ultimamente por vários motivos: Situações de desemprego ou de rescisão amigável que têm vindo a “empurrar” muitas pessoas para esta nova realidade empresarial, forçando-as a serem empreendedoras, ou através ainda de uma nova geração de gestores que decidiram desde logo que esta via seria o seu modo de vida.

Independentemente da origem e da vontade, o que irá prevalecer no futuro será a conjugação destas 3 forças na construção de um percurso de sucesso em cada projecto. Provavelmente, muitas startups são mais fortes no seu arranque apenas numa determinada força, em detrimento das restantes, exigindo um esforço por compensação ao seu promotor, que terá de adaptar-se em conformidade – E nesta perspectiva, a força da Atitude é quase sempre aquela que tende a mover o barco, por forma a equilibrar todo o processo.

Muito dificilmente existirá, de forma abrangente a qualquer promotor, um momento perfeito para atrair estas 3 forças na sua planitude, mas o que temos vindo a observar leva-nos a admitir o seguinte: O processo de desenvolvimento de uma startup é um exercício de mudança, equilíbrio e de adaptação permanente – A partir do momento em que esta realidade for assumida e colocada em prática com sucesso, significa que, de forma meritória, o empreendendor ganha definitivamente o seu estatuto.

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