Não é um conceito novo porque já existe na sua essência há pelo menos 17 anos, mas sofreu exactamente o mesmo fenómeno que tem vindo a acontecer com ideias antigas que “renascem” em força devido aos avanços da indústria tecnológica. Neste caso, pelo uso do 3D, realidades mistas (AR / VR), 5G, Analytics, Cloud, Internet of Things (IoT) e Machine Learning (IA).
E qual é a razão para este fenómeno? Porque agora estão reunidas as condições aplicacionais para explorar todo o potencial destas ideias, tal como foram pensadas na sua origem, usando a capacidade prática da tecnologia disponível actualmente.
Deste modo, as práticas mais tradicionais ao nível do desenho assistido por computador (CAD) entre outros sistemas baseados em simulação avançada, iniciam agora um novo ciclo que se prevê revolucionário em muitos domínios, inclusive para os Marketers.
O que é um Digital Twin?
É uma representação digital (cópia) de um elemento físico, seja ele um modelo, processo, sistema, produto, etc., que funciona de forma dinâmica num contexto que replica as suas características reais, com o objectivo de avaliar e optimizar factores de performance, eliminando os custos que existiriam na sua produção tangível.
Basicamente todas as fases essenciais (design, criação de protótipo e respectivos testes evolutivos) são transportadas para um modelo digital, replicando todos os aspectos e conformidades de funcionamento, abreviando desta forma significativos investimentos em todos os recursos envolvidos.
O uso de digital twins é aplicado na criação de novos modelos (substituindo o custo do fabrico físico de um protótipo) ou na melhoria de modelos existentes, sendo que neste caso é estabelecida uma conectividade entre os dois “mundos” (físico e virtual) com transferência de conhecimento em tempo-real entre os dois elementos, permitindo o estudo, a avaliação e a decisão numa perspectiva controlada e predictiva.
Basta considerar a complexidade na produção de um novo motor (automóvel ou aviação) ou na construção de maquinaria industrial, para se perceber os benefícios deste conceito, já que o digital twin permitirá optimizar todos os detalhes de fabrico e uso, criando a oportunidade para que o elemento físico esteja mais próximo dos requisitos desejados como produto final ou acelerar consideravelmente a produção mínima viável (MVP).
Aplicação na indústria
O uso de digital twins é um tema que tem vindo a ser falado com mais frequência nos últimos 2 anos, não apenas pela sua adopção emergente devido às razões atrás referidas, mas também pelo vasto leque de aplicações nas mais variadas indústrias.
Na saúde fala-se da possibilidade de cada paciente ter o seu gémeo digital que replique exactamente as condições genéticas e as patologias particulares, para que os diferentes profissionais de medicina possam testar a evolução de terapias antes destas serem adoptadas nos pacientes reais, nomeadamente na absorção e reacção a novos fármacos ou até em cirurgias mais complexas.
Nas indústrias auto, construção, naval, transportes, logística, entre outras, é relativamente simples por analogia perceber os vários benefícios em todas as cadeias de produção, mas também é possível replicar o conceito em circunstâncias mais desafiantes, como testar a vida nas cidades (Singapura já deu os primeiros passos) ou a intervenção na natureza, a partir de modelos mais sofisticados.
A Testa aplica twins para cada um dos seus modelos de veículos. A DHL em parceria com a Tetra Pak implementou o primeiro smart warehouse com tecnologia digital twin na Ásia-Pacífico.
Os digital twins representam um dos factores com maior impacto na era que atravessamos. No mais recente survey sobre a implementação de projecto de IoT, a Gartner concluiu que 75% das empresas já usa ou planeia adoptar esta tecnologia no período de um ano. A Gartner prevê ainda que a partir de 2021 metade das grandes empresas industriais a nível mundial venha a usar esta capacidade onde estima um ganho de 10% em termos de eficácia produtiva.
Também a IDC considera que já a partir de 2020 cerca de 30% das maiores empresas públicas globais (Global 2000 Forbes) estarão a usar dados de digital twins provenientes de produtos conectados por IoT destinados à inovação e produtividade organizacional, estimando ganhos até 25%.
Já a Bloomberg, citando estudos da Grand View Research, estima que o mercado de digital twins venha a valer cerca de 26 mil milhões de dólares em 2025, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) próximo dos 38 mil milhões dólares nos anos seguintes.
Valor acrescentado para os Marketers
Recordo-me que na primeira “vida” do Second Life (no início deste século) foram muitas as marcas nacionais que apostaram numa presença virtual (criação de “ilhas”) ao ponto da própria República Portuguesa ter feito o mesmo.
De facto, houve quem considerasse que este ambiente virtual poderia vir a ser um interessante simulador para diversas práticas e acções de comunicação numa perspectiva de brand awareness, mas a plataforma perdeu a sua popularidade com a migração de interesses e entretenimento para o Facebook e outras redes, embora o Linden Lab ainda acredite num regresso do “The Next Internet” já que o Second Life mantém-se activo.
Observando na prática aquilo que a tecnologia digital twin permite explorar, poderá haver oportunidade para a criação de ambientes com estas características pensados especificamente para:
- Explorar o layout dos espaços comerciais avaliando todos os elementos que impactam com o processo de acolhimento e relação com os clientes;
- Identificar melhorias no uso de produtos tangíveis (calçado, tecnologia de consumo, equipamentos domésticos, etc.) que possam estar conectados por sensores às suas versões gémeas (através de IoT numa perspectiva de Internet of Products) e serem deste modo acompanhados durante as suas diferentes fases do ciclo de vida.
Face às práticas já em curso devido à adopção rápida das soluções de IoT, a tecnologia digital twin será mais interventiva e directa nas estratégias de marketing B2B (sectores industriais) onde os seus executivos poderão acompanhar desde logo as melhorias e as potenciais inovações decorrentes da sua aplicação, sendo que muitos destes benefícios irão posteriormente ter impacto nos consumidores finais. Portanto, temos aqui duas abordagens complementares em termos de criação, ida para o mercado e experiência: 1. Fase de concepção e fabrico; 2. Uso e consumo.
A tecnologia neste momento já quase não é uma barreira, mas o comportamento humano continuará a ser – sobretudo na mudança e adaptação ao seu espaço e ambiente, com implicações nas suas decisões e novos hábitos, o que obriga as marcas a estarem em constante inovação.
Face aos custos de I&D em produtos novos, onde vários estudos apontam para falhas e insucesso na ordem dos 80% à entrada dos mercados, ou mesmo em relação ao desinteresse pelas marcas, considerando o último relatório “Meaningful Brands” da Havas, onde 77% das mesmas não acrescentam qualquer valor, há um enorme potencial implícito nos digital twins, já que o mundo virtual poderá ser a porta de entrada para o mundo físico em várias componentes tangíveis do marketing mix, nomeadamente cada produto ter como padrão um modelo virtual.
A acompanhar…